quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A urbanização brasileira

O surgimento e o crescimento das cidades brasileiras até o século XIX

Planta com o traçado urbanístico de parte da cidade do Rio de Janeiro, na década de 1970.

A cidade de São Paulo é um exemplo de urbanização não planejada.

Projeto com o traçado do plano piloto de Brasília. A cidade é um exemplo de urbanização planejada.
Diferentemente da colonização portuguesa na América, os espanhóis incentivaram culturas altamente urbanizadas. De sua parte, os astecas no México, os maias na Guatemala e os incas no Peru apresentaram ao colonizador não somente paisagens de grandes monumentos arquitetônicos, como os templos e as estatuárias, mas também uma elevada concentração populacional em cidades com milhares de habitantes.
Quanto ao Brasil, o grande domínio da colonização portuguesa na América, as culturas encontradas no seu território caracterizavam-se por um estágio de desenvolvimento bastante diferente, sem nenhum vestígio de vida urbana, com os indígenas vivendo organizados em tribos de agricultores.
Característica expressiva da urbanização que marcou a colonização espanhola na América, o traçado em linhas retas das ruas e praças pode ser considerado como uma imposição do plano regular das cidades. Nele não se percebe nenhuma liberdade de adaptação desse traçado das ruas à sinuosidade do relevo, como também não se verifica nenhuma valorização simbólica dos lugares, a exemplo das cidades gregas e da região do Lácio, que valorizavam os sítios em acrópole. A cidade em tabuleiro de xadrez foi a expressão da necessidade de dominar o território conquistado.
Quanto à colonização portuguesa no Brasil, os estímulos foram diferentes para a produção do território e da sua urbanização. Nos primórdios da ocupação, sua economia, baseada na produção agrícola, era orientada para a exportação, daí as planícies e os terraços litorâneos terem sido escolhidos para a implantação dos primeiros núcleos urbanos. Os sítios escolhidos eram os localizados próximos à baías ou enseadas junto dessas planícies. As primeiras grandes cidades brasileiras estiveram intrinsecamente ligadas à função de porto comercial e à função militar. As condições de tais sítios favoreciam não somente a ligação com as áreas de produção agrícola como também o estabelecimento seguro de bases militares para garantir a posse da colônia. Exceções foram as cidades de São Paulo, nesse período, de Curitiba, no século XVII, e as cidades da mineração do século XVIII, que deslocaram o eixo da ocupação para o interior do território, como Ouro Preto em Minas Gerais e Goiás Velho em Goiás.
Enquanto as ordens espanholas mandavam evitar fundações de cidades em zonas litorâneas, as portuguesas proibiam que se fundassem cidades no interior sem permissão real, assim como qualquer penetração para o interior do território deveria ser expressamente autorizada.
Somente com a crise da agricultura em fins do século XVII e do XVIII, quando a mineração do ouro e da prata se expandiu, é que as ordenanças portuguesas se afrouxaram e foram fundadas cidades no interior do território brasileiro, como Vila Boa, hoje cidade de Goiás, no século XVIII, pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva; Vila Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais, fundada em 1711; Cuiabá, em Mato Grosso, fundada em 1727; Campinas, em São Paulo, elevada à condição de vila em 1797, também dentro do período do bandeirismo e da mineração do ouro.
Apesar de o século XVIII ter presenciado um grande avanço na fundação de vilas e cidades no interior do território brasileiro, esse processo se fez de forma muito descontínua, motivado tanto pela dependência do povoamento em relação às oscilações do mercado externo como também pelo esgotamento dos recursos ou pela concorrência de um produto com outro (caso da cana, da mineração e do café).
Foi um fenômeno constante a descontinuidade no crescimento das cidades do período colonial e mesmo durante o Império. Os recursos naturais, à medida que se esgotavam, levavam à estagnação desses centros. As grandes cidades mais bem localizadas sempre tiveram seu crescimento de forma mais contínuas, principalmente as portuárias. Estas podiam beneficiar-se de sua posição geográfica como centro de exportação de vários pequenos centros regionais, em que a estagnação de um era compensada pelo dinamismo de outro, e assim o grande centro conseguia sempre manter sua função exportadora. A cidade do Rio de Janeiro beneficiou-se da exportação de ouro e, quando este declinou, substitui-o pela exportação do café, que emergiu logo em seguida como o grande produto brasileiro.
Com a retomada do dinamismo do setor agrário da economia brasileira, no início do século XIX, as antigas cidades litorâneas retomaram seu ritmo de crescimento. A cana-de-açúcar, no Nordeste, permitiu que cidades como Salvador e Recife voltassem a crescer, garantindo-lhes o segundo e o terceiro lugares quanto ao número de habitantes entre as cidades brasileiras. O primeiro lugar passou para o Rio de Janeiro.
A transferência da Corte portuguesa para essa cidade, em 1808, não somente lhe permitiu o crescimento demográfico como também lhe garantiu uma transformação urbanística que a colocou muito próxima das cidades européias. Com a implantação da Corte, a criação da Academia Imperial de Belas Artes e a presença da Missão Cultural Francesa, o Brasil começou a viver momentos de transformação no perfil arquitetônico de suas principais cidades. Os edifícios públicos e a residência da Corte passaram a ser construídos segundo os modelos arquitetônicos neo-clássicos, isto é, segundo os padrões europeus.
As principais cidades, a partir da segunda metade do século XIX, passaram a receber uma enorme quantidade de melhorias técnicas, desde a implantação de sistema hidráulico, de iluminação, de transporte coletivos com tração animal e redes de esgoto até planos urbanísticos de logradouros públicos, praças e vias arborizadas.

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